Nesta história, há um marinheiro que, por ser muito
distraído, perde o barco todos os dias, e então fica no cais a olhar a lua. Um
dia, descobre que ela é um barco e resolve partir para “sítios, indistintos e
distantes”
António Pina, A História da Lua e do Marinheiro
- Achas que ele terá viajado até à Antártida?- interrompi
eu, muito curiosa.
- Sim, de certeza que ele viu os icebergues e os pinguins
com o seu fato de cerimónia preto e branco. – concordou o escaravelho. – Mas
deve ter sentido muito frio e, por isso, talvez tenha ido até ao Brasil
participar no Carnaval ou conhecer a maior floresta do mundo – a Amazónia.
- Também poderia passar perto dos gigantescos embondeiros,
em Madagáscar, e brincar às escondidas com aquelas meninas que gostam de andar
com lémures às costas.
- Ou então, procurar uma grande catedral gótica, como a de
Colónia, na Alemanha, e subir a uma das suas torres, que têm 157 metros de
altura. Aposto em como o marinheiro encontraria luas nos seus vitrais e nas
suas cúpulas.
- Já agora, também podia escalar as montanhas da Sibéria e
depois descansar no palácio de Santa Catarina. – Sugeri eu, entusiasmada.
- Onde ele descansaria mesmo bem era numa praia da
Austrália. – Defendeu o Escaravelho.
- E se se distraísse a observar os surfistas, até poderia
descobrir que eles usam umas luas para furar as ondas. Acho que até se tornaria
um marinheiro surfista!
O "marinheiro distraído" do texto de António Pina, se fosse ralmente verdade que ele era mesmo distraído, de certeza que não tinha condições para exercer bem a sua profissão, que requer precisamente o contrário: atenção para que o barco não encalhe ou não embata nalgum iceberg.
ResponderEliminarSó que ele está mais interessado na contemplação da Lua, que rege o ciclo das marés, a real, e que faz sonhar todos os que anseiam por mundos novos, a imaginária.
E tu, Leonor pegaste bem neste excerto deste escritor admirável. Porque desenvolveste o tópico que te foi fornecido: passaste pelos vários cantos do mundo, em cada um deles selecionaste um pormenor e conseguiste embalar tudo com palavras cheias de sensibilidade, ternura, e não deixaste de falar do entusiasmo dessa viagem imaginária. Imagino que te deu muito gozo e que vai continuar a dar a quem o ler, como a mim me vai dando sempre que aqui volto.
E não posso deixar de exaltar também a ilustração que fizeste do texto, com slides em movimento sempre a respeito do que nele foi dito. Fico sem palavras, parabéns!
O teu pai e admirador!